Ao fechar os olhos
pode notar nos milésimos de segundos restantes a escuridão. Fizera a maior
bobagem de sua existência, antes mesmo de apertar o gatilho.
O corpo lutou, num
espasmo por vida, mas a mente não mais reagia. Ele queria avsitar a luz no fim
do túnel, satanás vindo encontrá-lo, um
anjo o esperando, qualquer coisa que desse um rumo para sua eternidade.
A banda nova não
estava dando certo? A ausência do amigo era dolorida demais? O peso na
consciência pesava mais que podia suportar? A vida não fazia mais sentido?
Ele jamais saberá se
iria ou não querer voltar atráz, não teve tempo, ou não quis ter tempo.
Nem pode sentir a bala entrando em sua boca, queimando tudo
no trajeto, cortando sua cavidades, estraçalhando seus neurônios, destruindo
seus sentidos. Foi rápido demais para qualquer sensação, qualquer sentimento,
qualquer arrependimento.
O que encontrou,
jamais saberemos. Sabemos oque deixou. Não só dois filhos, mas uma geração
inteira orfão. Uma carreira pela frente, uma bela esposa, uma vida confortável
e bem-sucedida como todos almejam. Mas não foi suficiente. Nada disso fez com
que o instante fatídico deixasse de acontecer. Covarde ou tomado por uma
coragem que poucos tem?
Independente do
motivo, do sentimento, para muitas pessoas nada parece justificar que alguém
atente contra a própria vida. Temos este direito? Ou precisamos ser fortes,
ainda que tudo ao redor pareça cinza. O suicídio ocorre a partir do momento em
que a pessoa desiste de viver, e foi oque ele fez.
Não ouviu os pássaros lá fora e nem poderia já que morava em
uma selva de pedras. Não lembrou dos momentos de vitória. Não notou seus
troféus na bancada. Em tudo que viveu até chegar alí. Em como deixaria seus
inimigos orgulhosos ou seus amores em farrapos. Não pensou no filho que estava
no ventre de sua esposa, sedento por vida, por um pai. Não hesitou. Mas
pensando bem, teve tempo. Teve tempo para viver do que gostava, privilégio de
muito poucos. Teve tempo para conquistar vitórias, “dias de luta, dias de
glória”. Tempo para jantar em um refinado restaurante japonês e tomar duas
garrafas de saquê. Não foi o suficiente.
Teve tempo, do
instante em que subiu o elevador, sem trocar nenhuma palavra com sua mulher,
dirigiu-se até um determinado cômodo, pegou a arma na gaveta, engatilhou-a e
“pou”. Fim, simples assim? E a despedida? A carta de “alforria”, o abraço
demorado?
Preferiu partir,
deixando com quem ficou um enorme vazio, um ponto de interrogação. Foi oque e
como escolheu. E se na vida, algo não saiu de acordo com oque queria, na morte
nada nem ninguém pode o contrariar. Morreu como quis, talvez
buscando driblar alguma frustração ou simplesmente para mostrar autonomia,
protagonismo. A vida naquele momento, era mais dele do que nunca.
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